Atendimento a idosos: guia para se destacar na carreira farmacêutica
O Brasil sempre foi um país predominante jovem, mas esse quadro vem mudando em ritmo acelerado. Hoje, mais de 12% da população tem mais de 60 anos e, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2025 já seremos o sexto país do mundo em número de idosos. A estimativa é de que até 2050 o percentual chegue a 30% da população.
Nesse cenário, o profissional farmacêutico torna-se ainda mais importante. Afinal, a maioria das doenças crônicas começa a aparecer nessa fase da vida, com mais intensidade a partir dos 70 anos. Anualmente, cerca de R$ 60 bilhões são gastos no Brasil com enfermidades características da terceira idade, de acordo com a Comissão para Estudo do Envelhecimento Mundial.
Da indústria ao comércio, toda a cadeia produtiva farmacêutica precisa estar atenta. Os idosos são um público exigente, que demanda ainda mais atenção, ética e responsabilidade.
Neste guia você vai conhecer mais sobre a carreira de farmacêutico, o mercado e a longevidade, a qualificação necessária para atender idosos e como oferecer um atendimento focado. Confira o índice:
- A carreira de farmacêutico
- O mercado e a longevidade
- Qualificação para atender idosos
- Como oferecer um atendimento focado
Continue a leitura e saiba como direcionar a sua carreira para aproveitar todas as oportunidades do mercado voltado para a terceira idade!
A carreira de farmacêutico
O profissional com formação superior em Farmácia pode atuar em três áreas: industrial, clínica e bioquímica. Cada setor demanda um perfil diferente de trabalho e qualificação. Vamos conhecê-los melhor:
1. Farmacêutico bioquímico
Com o ingresso de outros profissionais no mercado, como os biomédicos, a atividade de análises clínicas sofreu uma redução na sua média salarial, mas ainda é um campo de atuação com oportunidades interessantes, principalmente para quem gosta de empreender — começando um laboratório de análises clínicas em uma pequena cidade, por exemplo.
É preciso ter capacidade analítica e boa concentração, além de conhecimentos aprofundados em química analítica e instrumental, bioquímica, biologia molecular, citologia e citopatologia. O inglês também é imprescindível para acessar a literatura da área.
O farmacêutico bioquímico trabalha em laboratórios públicos e particulares, e os salários vão de R$ 1.200 a R$ 10 mil. Além de poder atuar como responsável técnico do laboratório, gestor do processo laboratorial e de qualidade (supervisão técnica, operacional e administrativa), o profissional realiza também:
- análises hematológicas,
- análises a partir de métodos em biologia molecular,
- exames bioquímicos, imunológicos e citopatológicos (de acordo com a legislação vigente);
- análises de líquidos biológicos e efusões cavitárias;
- investigações em micologia, microbiologia e parasitologia.
2. Farmacêutico clínico
A área de farmácia clínica ganhou estímulo extra após a aprovação da Lei Federal 13.021/14, que exige a presença de profissional habilitado em farmácias e drogarias do país. As oportunidades de trabalho são muitas, considerando o amplo varejo farmacêutico nacional.
O perfil multidisciplinar é mais exigido no setor, pois as habilidades técnicas precisam estar ao lado das comerciais e administrativas. É fundamental ter uma boa comunicação para lidar com equipes e pacientes.
Entre as muitas atividades possíveis na área, destacam-se:
- administração e orientação quanto à aplicação de medicamentos;
- desenvolvimento de ações para proteção, promoção e recuperação da saúde;
- consulta, anamnese, avaliação farmacêutica e intervenções terapêuticas, se necessário;
- verificação da receita médica em relação às normas e à legislação do setor;
- integração de comitês de ética e pesquisa, além de estudos epidemiológicos junto a outros profissionais de saúde.
O farmacêutico clínico pode trabalhar em hospitais e clínicas públicas, privadas ou filantrópicas, além de farmácias e drogarias. Os salários variam entre R$ 1.200 e R$ 12 mil.
3. Farmacêutico industrial
Com o crescimento da indústria farmacêutica aliado à exigência cada vez maior dos padrões por qualidade, o farmacêutico industrial tornou-se o profissional mais valorizado da área, com as melhores oportunidades de progressão na carreira.
O mercado exige desse profissional amplos conhecimentos em gestão industrial e normas nacionais e internacionais de Boas Práticas de Fabricação, além de legislação sanitária e gestão da qualidade. Habilidades administrativas e capacidade de liderança também são fundamentais, pois muitas vezes são profissionais alocados em cargos de gerência e direção.
Suas principais funções são:
- executar ou gerenciar atividades relacionadas ao registro de produtos, controle de qualidade, desenvolvimento de produtos e embalagens, validação de processos, departamento comercial ou SAC;
- traçar o fluxograma dos processos de produção e qualidade;
- receber auditorias sanitárias e realizar auditorias próprias para checar o cumprimento das Boas Práticas de Fabricação (BPF);
- realizar treinamentos sobre BPF;
- desenvolver planos estratégicos alinhados às BPF.
Esse profissional atua em indústrias farmacêuticas, farmoquímicas e cosméticas, e os salários iniciais giram em torno de R$ 1.800, podendo chegar aos R$ 40 mil para farmacêuticos em cargos estratégicos.
O mercado ainda tem dificuldades para encontrar profissionais qualificados. Para crescer na carreira, é imprescindível uma especialização na área industrial e o domínio da língua inglesa — para acompanhar as práticas, as metodologias e as publicações internacionais.
O mercado e a longevidade
Como já vimos, a população brasileira está vivendo cada vez mais, e essa longevidade tem relação direta com o avanço da medicina preventiva e da indústria farmacêutica.
Mesmo com o desenvolvimento da geriatria e do aumento de serviços como os centros de convivência, tanto o poder público quanto o mercado ainda não oferecem um atendimento adequado aos idosos.
Nossos vovôs e vovós não são mais como antes. São pessoas ativas e conectadas às novidades do mundo, longe daquele estereótipo na cadeira de balanço.
Contudo, apesar da expectativa de vida maior, eles ainda sofrem com as consequências dos maus hábitos cultivados durante a vida. Por isso o mercado ligado à longevidade não encontra crise: longevidade não é apenas viver muito, mas, sobretudo, viver bem.
É o contraponto à própria ideia de envelhecimento como algo ruim e penoso. Hoje, as chamadas doenças do envelhecimento — como hipertensão, diabetes e complicações cardiovasculares — são de fácil tratamento e já não há motivos para levar uma rotina limitada.
1. Como as farmácias estão se adaptando para atender a esse público?
O farmacêutico tem um lugar privilegiado na vida dos maiores de 60, principalmente quando atua no comércio. Fica nítida a representatividade desse público no dia a dia das farmácias. Mas será que basta apenas esperar por esses consumidores atrás do balcão?
Já está claro que não. A terceira idade tem demandas específicas, e o mercado farmacêutico tem sido pioneiro na atenção ao público idoso. A oferta de serviços diferenciados nos pontos de venda, como a criação de consultórios de atenção farmacêutica, reforça essa tendência.
1.1. Mais do que um ponto de venda: um centro de serviços à saúde
Com avaliações de saúde e um acompanhamento mais próximo do farmacêutico, o objetivo desse atendimento é melhorar a adesão aos tratamentos, facilitando o controle das doenças crônicas da população idosa.
Esse conceito insere as farmácias na rede de atenção básica à saúde brasileira, transformando-as em centros de orientação clínica. Essa transformação foi puxada pelos próprios estabelecimentos, pelo incentivo dos CRFs (Conselhos Regionais de Farmácia) e por regulamentações da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Os programas são voltados principalmente para problemas como obesidade, tabagismo, hipertensão arterial, diabetes, entre outros. A expectativa é de que em pouco tempo serviços clínicos como vacinação e exames rápidos também sejam oferecidos.
Essa transformação pode ser então uma grande oportunidade para o profissional farmacêutico. Porém, para aproveitar a conjuntura favorável, é necessário qualificação — para além do curso superior. É essencial ter pleno domínio das normas sanitárias e das condutas clínicas, além das melhores práticas de atendimento.
Muitas instituições focam somente no conteúdo técnico durante a formação profissional, deixando de lado o aprendizado relacionado à rotina do farmacêutico. Para resolver isso, considere investir em especializações em práticas de gestão e técnicas de vendas.
Qualificação para atender idosos
Em primeiro lugar, o ideal é não usar os termos “idoso” e “terceira idade” nas ações para esse público. A palavra “idoso” significa apenas “pessoa em idade avançada” no dicionário, mas culturalmente está associada à inutilidade ou à dependência — ideias que essa geração definitivamente rejeita.
Termos como “sênior” são mais bem recebidos, por exemplo. Os idosos são um grupo bastante diversificado. Alguns necessitam de mais cuidados e acompanhamento especial, mas uma boa parte vive de forma bastante ativa — e quer ser reconhecida por isso.
1. É preciso ser mais do que um bom farmacêutico
A chave para um bom atendimento é respeitar a autonomia e a experiência dessas pessoas. É imprescindível ser um profissional aberto a ouvir e a entender as necessidades dessa geração.
Como as farmácias são muitas vezes o principal estabelecimento na rotina dos idosos, os profissionais têm a grande oportunidade de conhecê-los a fundo, criando um relacionamento próximo.
Porém, segundo estudo realizado pelo Grupo CDPV e pela Associação do Comércio Farmacêutico do Estado do Rio, 58% dos atendentes do varejo farmacêutico não investigam as necessidades do cliente — além dos 79% que também não se esforçam para vencer a resistência dos frequentadores das lojas.
Esses erros podem ser determinantes para afastar o consumidor acima dos 60 anos. Às vezes o cliente com mais idade quer apenas conversar um pouco, saber mais sobre os produtos e medicamentos. Além de muitos se sentirem sozinhos, os idosos têm mais tempo no dia a dia e gostam de saber mais sobre o produto que estão levando.
É verdade que na rotina corrida de uma loja, muitas vezes o farmacêutico precisa se desdobrar em diversas funções, mas alguns minutos dedicados ao cliente idoso podem se tornar valiosos.
Vale lembrar que muitos deles têm um papel influenciador na família. A experiência que ele tem dentro da loja é compartilhada dentro de casa, fazendo a fama — boa ou ruim — do seu estabelecimento.
Como oferecer um atendimento focado
1. Não subestime o idoso durante o atendimento
Já vimos que não basta apenas atender, é preciso estar atento às necessidades e às demandas da terceira idade, mas em nenhum momento isso significa duvidar do discernimento e da capacidade de tomar decisões dos mais velhos.
É comum ouvi-los dizer que a “idade está na cabeça das pessoas”. E sim, muitos são tão ativos e inseridos no mundo contemporâneo que se sentem com alguns bons anos a menos — e não há razão para duvidar disso.
Não os trate de forma paternalista, como se fossem seres frágeis, debilitados e vulneráveis. Evite usar diminutivos ao atendê-los, pois eles sentem que estão sendo infantilizados.
O atendimento deve ser atencioso e eficiente, passando informações e tirando todas as dúvidas com paciência. É importante não confundir atenção com invasão — os homens, principalmente, ressentem-se quando percebem que estão sendo bajulados ou que algum produto está sendo empurrado.
2. Tenha um estabelecimento acessível
Por mais disposição que essa geração tenha, é claro que o corpo sente a idade avançando. As dificuldades motoras são naturais, e cabe aos estabelecimentos oferecer um espaço acessível e seguro.
O idoso precisa se sentir confortável e acolhido. Caso tenha muita dificuldade, ou até mesmo se veja impossibilitado de acessar algum local ou produto — situação que pode ser muito constrangedora para eles —, certamente ele não retornará à sua loja.
Algumas medidas simples podem resolver. Corredores mais largos e cadeiras para aguardar o atendimento já serão um grande diferencial. Instale rampas e corrimões de apoio, além de separar um espaço especial na loja para os produtos que eles mais consomem — lembre-se de mantê-los sempre à altura dos olhos nas prateleiras.
3. Planeje ações de marketing específicas
A terceira idade é definida como a fase da vida a partir dos 60 anos, mas é evidente que existem faixas de idade diferentes dentro desse grupo, logo, as demandas também são distintas.
Pense bem em qual faixa de idade você quer investir, qual é a melhor forma de se comunicar e de interagir com ela e qual é o seu poder de compra.
Aliás, preço é sempre uma questão importante para esse público. Como os gastos com medicamentos costumam ser maiores nessa fase, é fundamental oferecer benefícios extras e preços competitivos.
Crie cartões de vantagens e clubes de fidelidade, ou adote a ideia dos serviços de assistência farmacêutica (citados no subtítulo 2). Uma política de descontos para os medicamentos de uso contínuo também é essencial para tornar esses clientes fiéis.
Conclusão
Se longevidade está relacionada à qualidade de vida, um mercado voltado para esse nicho não poderia deixar de atender os seus clientes com a máxima qualidade.
Oferecer um atendimento dedicado e respeitoso também é uma forma de contribuir para o bem-estar dos nossos idosos. O segredo é aliar estratégias bem planejadas ao carinho extra que os mais velhos merecem.
Nesse contexto, uma qualificação direcionada é muito importante para estar bem preparado. Esteja sempre atento a novas oportunidades de capacitação pessoal e motive a equipe do seu estabelecimento.
Os clientes sentem o clima dentro da loja e o engajamento dos profissionais. Por isso, mantenha sempre um ambiente agradável e contagie os idosos com a alegria e a motivação do seu time!
Com essas práticas que apresentamos, é possível proporcionar um atendimento de qualidade aos idosos e ainda se destacar na carreira. Dessa forma você certamente será um profissional farmacêutico muito mais valorizado!